segunda-feira, 27 de setembro de 2010

The Witmark Demos


Mais um texto da lavra do amigo Marcelo Xavier, profundo conhecedor da obra e carreira do Bob Dylan:

O público americano é como a Bela Adormecida: está dormindo profundamente, esperando ser beijado e despertado pelo príncipe da música folk. Quem proferiu essa frase foi Albert Grosmann, então apenas um jovem promotor de shows em Chicago, meio-oeste dos Estados Unidos. Ele estava no negócio do folk desde 1956, quando fundou o Gate Of Horn, em Chicago, descobrindo Odetta, Roger McGuinn e Bob Gibson. Quando Al conheceu George Wein, no fim dos anos 50, ele teve a brilhante idéia de se mudar estrategicamente para Nova Iorque, o paraíso das editoras musicais, e transformar o recém criado Festival de Jazz de Newport numa histérica e ululante meca do velho gênero entronizado por Woody Guthrie e os Weavers.

Em poucos anos, Newport seria oponto de encontro da velha e a nova geração, e base de lançamento de jovens artistas folk, como Joan Baez, Phil Ochs, os Clancy Brothers, entre outros. Grossman, naturalmente, tratou de criar uma editora para si, e de se oferecer como empresário de vários deles, como Gordon Lightfoot, Odetta, Pozo Seco Singers e, é claro, um trio que foi cria sua Peter; Paul and Mary.

Em fins de 1962, no mesmo ano em que o grupo lançava seu primeiro disco, Grossman descobriu um rapaz que tocava no Gerde’s Folk City, no Village, mas que, no entanto, já havia sido descoberto e que estava sob a tutela de John Hammond, quase em estúdio, pronto para lançar o seu primeiro disco.

O garoto cantava material folclórico do tempo de Henry Thomas e imitava os talkin’ blues de Pete Segger, conseguindo ser tão convincente quanto o autor da langorosa “Where All The Flowers Gone”, com a diferença que o fedelho mal contava vinte anos. Um cofre caiu na cabeça de Grossman: ele havia achado o “seu” príncipe encantado aquele que Seeger chamou de “mais prolífico compositor de nossa era”.


O homem não cessaria enquanto não conseguisse pôr as mãos naquele moleque que era compositor e cantor ao mesmo tempo. Só que ele teve uma idéia brilhante: iria registrar boa parte das composições numa editora. Grossman faturaria em cima dele tanto pelo registro original da maioria das músicas enquanto poderia faturar o dobro fazendo seus outros músicos realizarem covers.

Al persuadira seu novo contratado a transferir os seus direitos autorais de suas músicas de sua editora original, a Dutchess Music para a Witmark, uma espécie de subsidiária da Warner (é importante lembrar que Peter; Paul and Mary, moldados pelos escrúpulos de Grossman, eram justamente artistas da Warner).

Enfim, era um negócio promissor, principalmente num tempo em que o negócio da fábrica de compositores em Tin Pan Alley ainda estava no auge e a música folk havia ganho maior visibilidade a partir do fim dos anos 50. .

O problema é que o acordo secreto com a Witmark dava exatamente um faturamento de 50% de honorários por cada compositor que ele trouxesse para a editora. Dylan desconhecia esse acordo, e isso, com efeito, lhe geraria uma dor de cabeça que perduraria por anos entre Bob e Grossman.

Os registros são ligeiramente informais, gravados em rolo, mas não diferem muito da produção típica do Bob Dylan do começo da careira e a maioria do seu trabalho em disco na época podia ser produzido e editado em poucas horas (o Another Side, por exemplo, foi consumido em uma noite e algumas garrafas de Boulanger).


De certa forma, esses demos compreendem uma parcela considerável do reportório obscuro de Dylan, inclusive boa parte do material composto para os álbuns The Times They Are A-Changin e o The Freewheelin' Bob Dylan. Muitas dessas canções são pouco conhecidas ou completamente obscuras: "Sally Gal", "The Death of Emmett Till", "Rambling, Gambling Willie", e "Talkin' John Birch Paranoid Blues", "Kingsport Town" e "Whatcha Gonna Do", entre outras conhecidas, como "A Hard Rain's a-Gonna Fall" ou "Oxford Town".

Na verdade, os Witmark Demos, em parte (quarenta e sete músicas, no total), compreendem o período prolífico da gestação do The Freewheelin', esse talvez uma exceção na carreira de Dylan, já que seu segundo elepê levou quase um ano para ser lançado: a primeira sessão ocorreu ainda em Julho de 1962, quatro meses após o primeiro disco, com uma turnê pelo Europa durante a produção.

Ocorre que, nesse meio tempo, ele continuava a compor, e muito do material já editado foi sacado fora em favor de novas canções, como "Girl from the North Country", "Masters of War", "Talkin' World War III Blues", "Bob Dylan's Dream", e que seriam posteriormente incluídos no álbum. Alguns temas, como a controversa “Talkin' John Birch Paranoid Blues" (mais conhecida por conta da controvérsia), foram rejeitados por pressão da própria Columbia, depois que Bob Dylan foi orientado a não cantá-la no politicamente correto Ed Sullivan Show.

Como essas demos não eram registros formais - gravados de forma peculiar, ao sabor do improviso, ou seja, fora da CBS – muitas das suas canções mais conhecidas por causar estranheza pelo fato de que Dylan não utiliza harmônica. Uma curiosidade é ouvi-lo cantando Tomorrow Is A Long Time”, diferente da versão ao vivo do Greatest Hits 2.Outra é “Death Of Emmett Till”, que tem os mesmos acordes de House Of Rising Sun e que, talvez por conta disso, ficou de fora.

por Marcelo Xavier

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Johnny Cash & Bob Dylan

No final da década de ´60, mais precisamente no ano de 1969, dois grandes ícones da música americana, Bob Dylan e Johnny Cash, se reuniram para apresentação em um programa de TV e sessões de gravação em estúdio. Essa parceria rendeu uma música incluída no álbum ‘Nashville Skyline’, de Dylan e em uma série de bootlegs que circulam mundo afora. Abaixo, transcrevo um belo texto sobre o assunto, da lavra de Rodrigo de Andrade e publicado originalmente no site ‘Os Armênios’ (um dos melhores sobre música e litaratura), em 2006. A transcrição respeita integralmente a inusitada escrita do autor e sua publicação original pode ser vista no seguinte endereço: http://www.osarmenios.com.br/2006/07/johnny-dylan/

Segue o texto:

para maurício rigotto, com admiração.

anteontem assisti johnny & june. & o tempo inteiro fiquei pensando no quanto ka$h & dylan tem em comum.

ambos levavam uma carreira em ritmo frenético, excursionavam sem parar (a never ending tour de bob segue até hoje) & como conseqüência acabaram entupidos de boletas. durante a infância, sentiam enorme paixão pela música popular que rolava nas rádios locais (country & folk & western & boogie & gospel & traditional & cajun & bluegrass & honky tonk & blues…). na gênese, se envolveram com música da mesma forma (ainda que os quase dez anos de diferença na idade possibilitaram a dylan viver o boom do rock ainda na adolescência). mas zimmerman não tinha um relacionamento tão tempestuoso com o pai, & nem o apego religioso, & nem a tragédia com um irmão tão próximo (ainda na infância) como o lendário homem de preto. & ka$h fora profundamente marcado por isso tudo.

lembro que no alta fidelidade, rob gordon comenta algo como “tenho que admitir que meu livro predileto é ka$h, a biografia de johnny ka$h, escrita por johnny ka$h”. prefiro o filme do que o livro. & talvez me arrependa de escrever isso porque um monte de alternativos de plantão vão me cacetear defendendo o nick hornby (mas vai ser divertido). o fato é que o livro preferido do rob nunca vai chegar ao brasil, & johnny & june é uma bela oportunidade de conferir um pouco da biografia do ka$h.

todo mundo fala do verão de 1964, quando al aronowitz intermediou o encontro de dylan com os quatro cabeleiras do pós-calipso, & de como o judeu safado teria apresentado o fuminho do capeta aos rapazes (o que é um equívoco, porque john & george já eram chegados num beiseball). ok, foi um acontecimento marcante, eles se admiravam, se influenciavam, ficaram amigos & mudaram o mundo. mas pouco antes desse encontro, no newport folk festival (não no da eletrificação, mas na edição anterior), bob tinha conhecido alguém que lhe era muito mais caro, & que howard sounes comenta na biografia não-autorizada do artista (& que o cara daquele livro do comedor de xis – que é bem legal – comentou que o peninha achou a obra meio hebe camargo):

“Apesar do novo trabalho ter recebido críticas positivas e negativas, o festival foi pessoalmente importante para Bob porque ele finalmente conheceu o artista country Johnny Cash, com quem estivera se correspondendo e cuja música ele admirava há tempos. Bob e Johnny ficaram tão felizes por se conhecerem que, juntamente com Joan Baez e June Carter Cash, puseram-se a pular para cima e para baixo na cama do quarto de motel de Cash, ‘como crianças’, como este descreveu“. (p. 148 da edição brasileira, da konrad).

a partir daí, a presença de ka$h é sentida em fatos pitorescos da carreira de dylan. um ano depois, novamente no newport folk festival (aí sim), após o set elétrico de zimmerman (que derrubou o cu dos caretas & a gente pode ver & rolar & chorar & rir, no no direction home), bob volta ao palco (uns garantindo que aturdido pelas vaias, outros dizendo que rindo da armadilha que ele mesmo programara). estava com um violão em punho. foi aplaudido pela platéia, & quando pediu uma gaita trêmula emprestada, o público prontamente providenciou centenas. mas aquele violão, quem emprestou para ele, nos bastidores, fora ka$h.



bootleg series: as sessões de dylan & ka$h

em fevereiro de 1969, dylan estava em nashville gravando a (ótima) peça de country/folk-rock nashville skyline. no mesmo estúdio, ka$h também trabalhava em seu novo álbum. resolveram registrar umas canções juntos. bob johnston, produtor, conta que eles pegaram seus violões & simplesmente começaram a tocar… por umas duas horas. Foram umas dezoito músicas, & em algumas foram acompanhados por membros da banda de ka$h. dessas, apenas uma foi parar no disco de bob. uma versão suja & marcante de girl from the north country, que abre o disco. ainda assim há peças preciosas que nunca viram a luz do dia (apenas em versões piratas): matchbox, that’s alright mama, walk the line, ring of fire… essas outras canções estão presentes numa série de títulos piratas.

num do números da (então ressucitada) revista bizz, aproveitando o lançamento do documentário de scorcese & o volume sete da antológika bootleg series de dylan, produziram uma matéria bem legal sobre esses lendários registros de dylan que acabam vindo a tona em lançamento piratas fuleiros, com qualidade sofrível. a alegria dos fãs é quando esses tesouros são oficializados com qualidade decente nas bootlegs series. e o pessoal da bizz apostou na oficialização das sessões no porão da big pink, que já garantiria uma caixa com vários CDs (e seria incrível!). but, ainda mais com a onda por causa de johnny & june, prefiro acreditar (e torcer) pelo lançamento dessas sessões de dylan & ka$h em nashville.

para quem não agüenta esperar, esses registros circulam pela internet, & são facilmente encontradas nos mais diversos compartilhadores de arquivo. só posso dizer que vale a pena. procure pelos bootlegs “nashville 1969″ & “aces & diamonds”, ou mesmo por “dylan & cash sessions”.

outra da biografia escrita pelo sounes (p. 215): “De todas as estrelas da música que tinham suas bases no sul, a relação mais calorosa de Bob foi com Johnny Cash. Um sinal de afeição por Cash foi ele ter deixado de lado sua profunda implicância com a televisão para se apresentar na estréia do programa de televisão de Cash, gravado ao vivo no Ryman Auditorium, em Nashville – lar do Grand Ole Opry – em 1º maio de 1969“. na época, dylan andava completamente recluso. o fato da gravação ser com platéia, & de que nada poderia dar errado (seria take único) o deixou visivelmente perturbado (ou fora apenas uma paranóia, fruto dum baseado, maybe). ainda assim ele tocou três canções, sendo acompanhado por ka$h em girl from the north country. mas o show foi um enorme sucesso do programa, sendo reprisado várias vezes & colaborando com a promoção das vendas de nashville skyline. o áudio da performance também é encontrado nos títulos piratas listados acima.

nota de rodapé: recados achados no lixo

desde 1964 que dylan tinha um fã obsessivo chamado alan jules weberman. o mala incomodava muito: organizava manifestações em frente a residências de bob, publicava matérias dizendo que deviam ser feitos testes com a urina do rockeiro para constatar que ele era viciado em heroína, entre outras barbaridades. a verdade é que weberman era um junkie doidão & colecionava condenações pelos mais diversos motivos, desde vender maconha até agressão a um policial. entre suas pérolas, há o “método dylanológico” para se interpretar mensagens ocultas nas letras de bob. bobagem pura. em agosto de 1970, o retardado roubou um saco de lixo da casa do artista. chegou a desenvolver um método que consistia em se valer do lixo como base para artigos de jornal (que resultou no livro my life in garbology – minha vida na lixologia). entre as coisas que ele achou no lixo de dylan, havia o início de uma carta para johnny ka$h.

o judeu, o kountry & discos… menores???

após a monstruosamente genial trilogia de 1965/66 (composta pelos lendários álbuns bringing it all back home, highway 61 revisited & blonde on blonde) a crítica, o público & os fãs estranharam o direcionamento de dylan. john wesley harding (no finalzinho de 1967) & nashville skyline (1969) eram discos de country-rock. a diferença era evidente, mas como se tratavam de trabalhos com qualidade inquestionável, & apontou caminhos seguidos até mesmo pelos beatles & os stones (no álbum branco & beggars banquet respectivamente), & venderam bem (especialmente nashville skyline, empurrado pelo hit-single lay lady lay) ninguém ralhou muito. apenas alguns radicais que queriam de volta o ícone de protesto, herói da contracultura, que dylan havia se (ou sido) transformado.

os trabalhos seguintes, na mesma linha, não foram perdoados. até hoje são apresentados em biografias & resenhas como álbuns menores, de importância secundária. sem dúvida, são afirmações injustas. na verdade, são idiotices que foram se propagando com o tempo.

o country sempre esteve presente na vida & na carreira de dylan, desde sua infância & perpassando quase todos os seus discos. sobre os primeiros álbuns, deve ser dito que a fronteira entre o country & folk é bastante tênue, & os gêneros as vezes se misturam, andam juntos & geram peças híbridas. o country tem uma forma simples, variando sobre temas similares & sobre tradição, ainda que o gênero se estilhace numa enorme variedade de estilos. já o folk (o termo vem de folk+lore, conhecimento do povo, o “folclore”) é composto por canções que foram passando pelas gerações através da tradição oral. & ambos tem uma origem (e letras com temática) rural. assim, tanto o folk como o country (e seus vários sub-estilos) sempre estiveram incorporados na sonoridade de dylan, desde que ele se apaixonou por aquelas canções no rádio, em sua infância, & as foi conhecendo, pesquisando & tocando até que alcançasse o estrelato.

a influência country sempre esteve presente na obra de bob. desde o primeiro álbum. até na trilogia de 1965/66 isso é sentido. seja numa levada caipirosca, no dedão pesado em algumas canções acústicas, ou mesmo na guitarrinha country de faixas de bringing it all back home & até blonde on blonde. usar esse pretexto para achincalhar álbuns como john wesley harding, nashville skyline & os posteriores é uma enorme bobagem. o country sempre esteve & estará no som de dylan.

com o sucesso comercial de nashville skyline, bob voltou aquela cidade em seguida, no final de abril de 1969, com vários songbooks. informou ao seu produtor, bob johnston, que queria gravar um disco com músicas de outros artistas. começava a gestação de self portrait. um dos motivos que levou dylan a tomar essa decisão era o fato de que, em virtude de contratos anteriores, suas composições geravam rendas para albert grossman, manager com quem estava brigado. assim, gravando músicas de terceiros, bob negava a grossman a renda de publicação. Também, pesando nesse sentido, tinha o fato de que continuando a gravar em nashville, ele se via cercado por pessoas de uma tradição musical que amava. era o cenário & os estúdios de onde haviam saído johnny ka$h & uma série de outros heróis que dylan admirava, especialmente na adolescência. tanto é que usou, nas seções, vários músicos que já haviam gravado com elvis, como bob moore, delores edgin & millie kirkham.

as gravações foram um tanto irregulares, & após ter se mudado de woodstock, dylan rompeu com nashville. tratou de gravar o restante álbum no estúdio da kolumbia em nova york. o motivo nunca ficou claro, o fato é que o rompimento foi deveras brusco, & os músicos de nashville ficaram magoados, como charlie mccoy & kenny buttrey, especialmente por não serem avisados, & nem terem recebido ao menos uma cópia do disco, após o lançamento.

self portrait foi lançado em junho de 1970 & a crítica simplesmente destruiu com o álbum. composto pelas covers, algumas faixas ao vivo & até temas instrumentais (a faixa wigwam, que no brasil virou tema da tv record, dez anos depois), todos se decepcionaram por bob, o grande poeta, não ter apresentado uma quantidade maior de material inédito. especialmente pelo fato do disco ser duplo. greil marcus, o erudito do rock (autor de a última transmissão, lançado esse ano na coleção iê-iê-iê da konrad), escreveu uma crítica para a revista rolling stone que já iniciava perguntando “que merda é esta”. geralmente adulado pela mídia, pela primeira vez dylan era alvo de deboche & pancadas.

por mais suspeito que eu seja, não acredito que o disco mereça tamanho desprezo. não era a primeira vez que bob mudava a sua “direção” musical, & o flerte com o country estava entalado na garganta de muita gente. continuavam a se decepcionar porque o rockeiro ia explorando caminhos novos sem ligar para o que os outros esperavam. pela primeira vez, ele se valeu de “enfeites” como arranjos melosos de cordas, sopros & acompanhamentos vocais. o resultado foi diferente de tudo que o artista já havia produzido, mas não de todo mal. uma faixa que se encaixa totalmente nessa proposta nova, & que foi detonada na época, é a primeira do álbum: all the tired horses. exagero. não é uma música má. anos depois chegou a ser incluída na (excelente) trilha sonora do (puta) filme profissão de risco (com o gatinho do johnny depp). ainda, o álbum trazia covers de blue moon (sucesso na voz de elvis), the boxer (de simon & garfunkel) entre outras. nem a versão ao vivo na ilha de wight de like a rolling stone, countryzona, foi polpada. mas, ninguém nega que o disco tenha momentos fortes, marcantes, como its hurts me too (parecendo ser dedicada a uma amante com um filho) & gotta travel on, de paul clayton.

segundo al kooper, bob ficou chateado com a má recepção de self portrait, & assim tratou de trabalhar num novo disco imediatamente, com canções novas. dizem que por ciúmes pelo produtor bob johnston, & os músicos charlie daniels & ron cornelius estarem tocando na turnê de leonard cohen (outro grande poeta-rockeiro-judeu), dylan teria dispensado-os, & colocou kooper para produzir seu novo álbum. & assim, ainda em 1970, apenas três meses após self portrait, new morning foi lançado (pouco antes do lançamento já atrasado do livro de bob, tarantula).

a rolling stone até recebeu new morning de maneira mais calorosa. a resenha de ralph j. gleason tinha como título “dylan está de volta!”. mas a opinião geral era uma bobagem. não podendo cacetear as músicas, indiscutivelmente boas (e no mesmo estilo do de self portrait, só que com apenas temas de autoria do próprio cantor) afirmavam que bob havia se vendido. o álbum era realmente mais leve, mas ótimo. gleason escreveu que o escutara dez vezes & não tinha encontrado uma única faixa ruim. & é verdade. mas não podiam dar o braço a torcer, & estava sendo bonito transformar dylan novamente em judas.

muitas faixas eram ainda das sessões de self portrait. a ótima if not for you foi lançada naquele mesmo ano no inacreditável álbum triplo de george harrison, all things must pass. ele & bob eram muito próximos. & no futuro, a música seria um sucesso na voz de olivia newton-john. diziam que went to see the gypsy falava sobre um encontro com elvis presley, mas dylan nunca admitiu nada nesse sentido. if dogs run free vinha com um arranjo jazzístico. three angels era, na verdade, sobre uma decoração que bob viu numa igreja, & um crítico da época afirmou que a canção era sobre a humanidade. a faixa título & outras duas canções do álbum haviam sido compostas para uma peça de teatro de archibald macleish, mas não foram entregues a tempo. na época, a universidade de princeton deu ao rockeiro o título de doutor em música honoris causa. durante a cerimônia, uma nuvem de gafanhotos pouso sobre árvores em frente ao prédio, no campus, onde estava ocorrendo a solenidade. david crosby (ex-byrds & então membro do crosby stills nash & young) tinha acompanhado dylan & sara até cerimônio & disse terem fumado uma baseado fortíssimo. achou o som dos gafanhotos esquisito & alto & pensou que sua cabeça fosse explodir por causa dele. inspirado pelo comentário, bob compôs day of the locust.

new morning novamente fora castigado por que dylan não era mais um cantor “de protesto”. apesar disso, a crítica confirmou que as canções eram boas, sem saber que muitas eram das sessões do massacrado self portrait. & até 1973 nenhum outro álbum do artista foi lançado (apenas uma coletânea, “more greatest hits”, que até trazia algumas faixas inéditas). foi quando surgiu a oportunidade de bob compor a trilha sonora & atuar num faroeste de sam peckinpah (ele admirava o diretor, & de maneira especial a película meu ódio será tua herança). as filmagens foram um tanto caóticas (com o diretor bêbado todo o dia), mas a atuação do rockeiro, num papel coadjuvante, ficou boa. & a trilha foi composta fora dos moldes habituais. sem se preocupar com a duração & os cortes das cenas, dylan foi produzindo temas instrumentais. cercado por um grupo bastante eclético de músicos, que incluíam booker t. & roger mcguinn (o roger magrinho), o resultado impressionou bruce langhorne, que era acostumado a trabalhar com trilhas sonoras: “me dei conta de que não tinha a ver com fazer a trilha” diz ele “mas com captar a emoção do filme”. a trilha incidental evoca em alto grau o faroeste. & bob fora aclamado pelo trabalho. o engraçado mesmo é perceber que o disco acabou vendendo bem, uma vez que possui poucas faixas acabadas, & soe mais como uma miscelânea de temas instrumentais, incidentais & temáticos. mas o hit knockin’ on heaven’s door foi um tremendo sucesso (sendo regravada por eric clapton, os farofeiros ridículos do guns’n'roses, zé ramalho é uma penca de outros artistas). é apenas engraçado constatar que um disco de recortes de temas do filme tenha sido bem recebido, uma vez que trabalhos anteriores, bem montados & acabados, tenham sido caceteados sem perdão.

encerrando essa fase mais caipiresca, & injustamente apontada como fraca, existe um disco que foi lançado sem que a gravadora consultasse o artista. em 1973, seu contrato com a kolumbia expirou, & bob assinou com geffen, se mudou para a asylum (subsidiária da elektra, que depois se tornou o “e” da wea) & gravou dois discos incríveis com a the band (planet waves & o ao vivo convulsivo before the flood). mas antes desses lançamentos, & para concorrer com eles, a kolumbia lançou um disco de sobras de estúdio. composto por canções gravadas durante (e entre) self portrait & new morning, o lp, que fora batizado simplesmente de dylan, mal foi escutado. sua fama, por ser um amontoado de restos de discos considerados fracos, era o suficiente para consagrá-lo como o pior trabalho de toda a vasta discografia do rockeiro. novamente, não vou ficar arrolando razões em defesa de um álbum massacrado. digo apenas que, dentre todos esses títulos, desde o início da década de 1970, acho que aí está o meu favorito. um tiro curto (são apenas nove canções) & que até pode soar kitsch (não que eu me importe). mas lado “a” é irrepreensível. abre com lily of the west, seguida por i can’t help falling in love (elvis) antes de emendar a vibranta sarah jane, para fechar com uma canção tradicional, spanish is a loving tongue. o lado “b” também é muito legal, com direito até a big yellow taxi (da joni mitchell) & a fool such as i (outra de elvis).

por fim, concluo apostando em todos esses discos menosprezados. fatores históricos levaram ao seu obscurecimento, por um preconceito contra o country & uma vez mais por dylan ter optado por rotas distintas para sua carreira musical. um feito que decepcionou a crítica, & acabou marcando tais obras. entretanto, hoje, com um distanciamento que permite uma análise mais fria daquilo que realmente importa, que são os discos, eles parecem coerentes & consistentes. aprecie sem preconceitos, nem que seja para concluir que não passo de um dylanófilo cretino esperneando por bobagem.

por rodrigo de andrade (garras)

Nota, a foto acima, na qual o autor aparece deitado entre diversos discos ‘dylanescos’ é de autoria de Roberta Scheibe.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Direto do forno!

Tem novidades ‘dylanescas’ no forno. Segundo a Newsletter do site oficial do Bob Dylan, a Sony/Columbia prepara dois grandes lançamentos, previstos para chegarem às lojas (pelo menos nos EUA e na Europa), no dia 19 de outubro de 2010. O primeiro deles é ‘The Bootleg Series Volume 9 – The Witmark Demos’, nada mais, nada menos que 47 canções gravadas entre 19612e 1964, em suas próprias editoras de música, Leeds Music e M. Witmark & Sons, apenas com Bob Dylan e seu violão acústico, sua harmônica e, ocasionalmente, ao piano. Esta edição chegará às lojas em CD duplo ou num Box com 4 LPs vinil 180 gramas. Ambas versões estão em pré-venda e com uma camiseta de brinde. Há ainda uma edição 'deluxe', que vem com livreto recheado de fotos da época.

Circula pela internet o provável ‘set list’ desse 9º Volume da ‘Bootleg Series’:


Disc 1:
1. Man On The Street (Fragment)
2. Hard Times In New York Town
3. Poor Boy Blues
4. Ballad For A Friend
5. Rambling, Gambling Willie
6. Talking Bear Mountain Picnic Massacre Blues
7. Standing On The Highway
8. Man On The Street
9. Blowin’ In The Wind
10. Long Ago, Far Away
11. A Hard Rain’s A-Gonna Fall
12. Tomorrow Is A Long Time
13. The Death of Emmett Till
14. Let Me Die In My Footsteps
15. Ballad Of Hollis Brown
16. Quit Your Low Down Ways
17. Baby, I’m In The Mood For You
18. Bound To Lose, Bound To Win
19. All Over You
20. I’d Hate To Be You On That Dreadful Day
21. Long Time Gone
22. Talkin’ John Birch Paranoid Blues
23. Masters Of War
24. Oxford Town
25. Farewell

Disc 2:
1. Don’t Think Twice, It’s All Right
2. Walkin’ Down The Line
3. I Shall Be Free
4. Bob Dylan’s Blues
5. Bob Dylan’s Dream
6. Boots Of Spanish Leather
7. Walls of Red Wing
8. Girl From The North Country
9. Seven Curses
10. Hero Blues
11. Whatcha Gonna Do?
12. Gypsy Lou
13. Ain’t Gonna Grieve
14. John Brown
15. Only A Hobo
16. When The Ship Comes In
17. The Times They Are A-Changin’
18. Paths Of Victory
19. Guess I’m Doing Fine
20. Baby Let Me Follow You Down
21. Mama, You Been On My Mind
22. Mr. Tambourine Man
23. I’ll Keep It With Mine

Algumas destas músicas de Dylan, jamais foram oficialmente lançadas, embora uma delas, um hino dos direitos civis, "The Death Of Emmett Till", tenha sido incluída na compilação da Smithsonian Folkways, de 1972, "Broadside Ballads, Vol. 6: Broadside Reunion."

O outro lançamento, extremamente aguardado pelos fãs e colecionadores, pegando carona na recente onda de relançamentos em mono, é ‘The Original Mono Recordings’. Que vem a ser um Box com os 8 primeiros discos do bardo, nas suas versões originais, em mono, exatamente da maneira que o artista entendia que aquelas canções deveriam ser escutadas. Esses oito álbuns, que vão de seu disco de estréia em 1962, simplesmente chamado ‘Bob Dylan’, até ‘John Wesley Harding’ de dezembro de 1967 estão entre os mais importantes da história da música.

Segue abaixo, a lista dos oito álbuns que farão parte deste ‘box’, que já está em pré-venda em 2 versões, 8 CDs ou 9 LPs vinil 180 gramas, ambas com um pôster-brinde. Existe ainda uma outra versão, acompanhada de livreto com fotos e um ensaio do consagrado crítico musical Greil Marcus:


Bob Dylan – 1962
The Freewheelin’ Bob Dylan – 1963
The Times They Are A-Changin’ – 1964
Another Side Of Bob Dylan – 1964
Bringing It All Back Home – 1965
Highway 61 Revisited – 1965
Blonde on Blonde – 1966
John Wesley Harding – 1967

Ainda não há previsão de lançamento destes itens no Brasil, mas tudo indica que também ganharão suas edições nacionais. Vamos aguardar!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Mais literatura dylanesca...


Mais um pouco de “literatura dylanesca” disponível no mercado editorial nacional. Trata-se do Livro “Like a Rolling Stone”, do crítico Greil Marcus, traduzido para português e recentemente lançado pela Companhia das Letras com o subtítulo “Bob Dylan na Encruzilhada”.

Terminada a leitura do livro, queria deixar aqui no Blog minha impressão definitiva a respeito do mesmo. Quer dizer, definitiva talvez nem seja a palavra adequada, já que muitas vezes uma releitura faz com que a aquela impressão inicial por vezes se modifique. Mas vamos lá:

O livro parte de uma premissa bastante promissora, que é discutir a música hoje, vista sob uma perspectiva histórica, 45 anos depois. Confesso, porém, que não me agradou muito, embora não seja ruim. Achei um pouco chato, meio pretensioso, intelectualóide...

Greil Marcus é um crítico conceituadíssimo, tem uma extraordinária bagagem, mas no livro, a impressão que me deu é que apela pra muita filosofia e pouca informação concreta. Tenta soar como um profeta, um iniciado, alguém que fez uma descoberta ou talvez tenha uma revelação a fazer. A mim, pareceu um pouco presunçoso, embora admita que muita gente possa gostar do estilo. Eu talvez seja mais adepto à pesquisa, a dados biográficos, etc.

Talvez minha expectativa tenha sido muito elevada, mas me deu a impressão que às vezes o autor viaja numas interpretações da 'obra dylanesca'. Soa como se fosse o único a compreendê-la, um 'escolhido', mas objetivamente não diz muita coisa. De fato, o livro tem algumas ótimas passagens, como uma bela homenagem do Dylan a Sam Cooke; o episódio da torça do produtor de Tom Wilson para Bob Johnston e outra, interessantíssima, sobre o início hesitante da carreira de Jimi Hendrix e de como as tentativas dele de tocar os discos de Dylan para amigos no Harlem, eram recebidas com desdém.

Além destas, posso citar diversas outras, como a que pinça uma fala de Mike Bloomfield, sobre Newport ´65, na qual ele dá a entender que a rejeição ao ‘Dylan elétrico’ pelos puristas talvez tenha se dado muito mais por levar eletricidade ao templo acústico. Bloomfield afirma que Lightnin´ Hopkins, p. ex., havia 12 anos que gravava discos ‘eletrificados’, mas não levava sua banda ao festival, chegando lá como se recém-saído dos campos. Uma outra sobre o desespero que levou Levon Helm a deixar a banda em plena turnê americana, por não suportar conviver com vaias e platéias enfurecidas.

Uma nota de rodapé que chama atenção é sobre o amigo paraplégico Larry Keagan, que conservou consigo um disco de alumínio com algumas das 1ªs gravações do Bob em 1956. Quando morreu, em 2001, a família dele teria tentado, sem sucesso, vender o disco no eBay pela bagatela de US$ 150 mil. Muito legal também a narrativa da obsessão do Dylan pela Highway 61.

A melhor parte, porém, talvez por ser provavelmente a mais esperada, vem no Capítulo 10, com o relato do famoso show “Judas!”, em Manchester, Inglaterra, que leva o autor, sabiamente, a considerar que nem “Like a Rolling Stone”; nem Dylan; nem o seu público foram os mesmos após aquela turnê.

Pode parecer antagônico, com tanta coisa interessante, achar o livro um pouco chato. Porém, na minha opinião, falta fluidez ao texto em boa parte do livro. Às vezes a leitura se torna modorrenta e a impressão que dá, é que o autor tenta soar profético, revelador, alguém que alcançou algo que os demais não conseguiriam. Bem, são apenas minhas impressões. Recomendo que leiam e tirem as suas próprias...

Outra coisa que merece registro, é que o autor poderia ter economizado algumas páginas, deixando de fazer as absolutamente dispensáveis referências aos Pet Shop Boys e Village People. Aliás, Marcus é autor daquela resenha do disco 'Self Portrait', a famosa "Que merda é essa?". Talvez fosse hora do Dylan devolvê-la, no momento que Marcus faz estas referências no livro dele.


Foto em frente à Livraria Cultura, do Conjunto Nacional, em São Paulo, onde o livro era destaque.

Like a Rolling Stone - Bob Dylan na Encruzilhada
Greil Marcus (Companhia das Letras; tradução de Celso Mauro Paciornik; 256 páginas)

domingo, 4 de julho de 2010

O Álbum Branco de Dylan

Aqui vai mais um excelente texto sobre o ‘Great White Wonder’, famoso bootleg do Bob Dylan, já abordado aqui no Blog. Esse é da lavra de Marcelo Xavier, grande amigo e verdadeira ‘dylanpedia’.

Em fins de 1969, o New York Times largou essa nota:

O artigo era a respeito da considerável repercussão que um álbum lançado no mercado negro (um bootleg) norte-americano, contendo material inédito de Bob Dylan. O disco, intitulado Great White Wonder, cuja concepção (era branco e duplo) remete ao White Album, dos Beatles, havia sido destaque na Rolling Stone em junho do ano anterior, em outro artigo, Dylan's Basement Tape Should Be Released.

O disco caiu nas ruas e a notícia dá conta de que a gravadora do autor de Blowin' In The Wind, a Columbia, ia tomar todas as medidas necessárias, cabíveis e possíveis a fim de tirar aquele escandaloso disco das lojas.

A história é a seguinte: em 1967, no auge do Verão do Amor, Dylan foi morar no mato nos arredores de Nova Iorque. Pessoal da antiga banda de apoio dele, os Hawks, que tinha relação como empresário dele na época, o Albert Grossman, acabou indo também para lá, e armaram um Q.G. num casarão cor-de-rosa que entraria para a história do rock.

O porão da casa virou um estúdio improvisado. O bando ficou boa parte do verão e do outono gravando, compondo material novo &/ou fazendo covers de temas folk antigos, tudo gravado em rolo. Gravaram mais de cem músicas. Muita coisa os Hawks não sabiam se eram do Bob Dylan ou covers, mesmo. Mas era só clicar no Play/Rec e pagar para ver...

Dylan saiu de lá no fim de 67 para gravar seu próximo disco, o John Wesley Harding, um trabalho totalmente apsicodélico. O curioso é que, para isso, ele dispensou os Hawks e o que ele gravou, com um grupo de Nashville (como fizera com o Blonde On Blonde), não tinha nada a ver com aqueles demos do porão.

O resultado da brincadeira foram rolos e rolos de música. Parte do material inédito seria mandado para a editora musical dele e de Grosmann, a Dwarf. Esse mesmo material foi passado para acetato — e eis que o astuto Grosmann não se fez de rogado: mostoru as novas canções para outros artistas (alguns empresariados por ele), que se interessaram em levar para o disco.

Assim se deu: por exemplo, o Fairport Convention gravou Million Dollar Bash, Manfred Mann registrou Mighty Quinn; Peter, Paul And Mary gravou Tears Of Rage, os Byrds, por sua vez, fizeram a festa: gravaram You Ain't Goin' Nowhere; Nothing Was Delivered e Wheel's On Fire.

Os Hawks — agora já batizados como The Band — gravaram Tears Of Rage, Wheels On Fire. George Harrison, que era amigo do Dylan, ouviu esse material e mostrou para seus três amigos. Diz-se que a idéia das sessões do Get Back foram inspiradas pelas sessões de Woodstock. De forma descompromissada, inclusive, ele e o Paul gravaram respectivamente I Shall Be Released e Please Mrs. Henry, na Apple.

A questão era justamente tentar entender porque depois de um ano, as gravações não foram lançadas oficialmente pela Columbia, e por que elas se diseminaram como sífilis pelo meio musical de forma endêmica. Quando a Rolling Stone se perguntou por qual razão as fitas não tinham um destino lógico, parte delas saiu na famosa versão bootleg, o Great White Wonder.

O disco, concebido por algum colecionador norte-americano, em 69. Ele passa por três fases do compositor.

A primeira, é uma gravação caseira, de 1961, onde ele toca parte do seu repertório do começo da carreira, que se assemelha naturalmente com o seu primeiro álbum: Candy Man, Ramblin' 'Round, Black cross, Ain't Got No Home, Death of Emmett Till e duas que foram lançadas oficialmente, See That My Grave Is Kept Clean e Man of Constant Sorrow.

A segunda cobre já a fase "elétrica", com material inédito do Bringing All Back Home: If You Gotta Go, Go Now (Or Else You Got To Stay All Night) e Sitting On a Barbed Wire Fence.

A terceira finalmente traz a peça de resistência do Álbum Branco de Dylan: highlights dos tapes de Woodstock, antes registrado em acetato: I Shall Be Released, Open The Door, Homer, Too Much of Nothing (que Petr Paul And Mary gravaram), Nothing Was Delivered e a belíssima Tears of Rage — composto em parceria com Rick Danko e que se tornaria um clássico com a The Band.

Esse material passou a ser pirateado largamente nos anos seguintes, e o Great White ganharia uma segunda parte. Dylan decidiu regravar oficialmente algumas canções, como I Shall Be Released e You Ain't Going Anywhere, que saíram no Greatest Hits II, de 71.

Em 1975, a fim de tentar estancar a pirataria infrene, a Columbia remixou parte dos masters de 1967, regravando alguns instrumentos e incluindo coisas que não nasceram oficialmente em Woodstock, como Katie's Been Gone e Bessie Smith, que são da The Band/Hawks e lançaram o conhecido The Basement Tapes.

Detalhe é que, mesmo que objetivo e conciso, a versão oficial deixou muita coisa de fora. Um exemplo é Quinn The Eskimo, que só foi lançado pela CBS na coletânea Biograph, de 1985. E, a rigor, nenhuma versão do Great White Wonder é idêntica a do Basement Tapes. Outro: I Shall Be Released, cujo título é o mote do artigo da Rolling Stone, aparece no GWW mas não saiu no elepê duplo de 75.

E é claro e cristalino que, depois de quarenta anos, esse bootleg — considerado como um dos primeiros da história, junto com o Kum Back, dos Beatles e outros, possui apenas valor histórico: muito desse material viu a luz do dia no Bootleg Series 1961-1991.

Por Marcelo Xavier
highway61@bol.com.br
Originalmente publicado em Vitrola, Minha Vitrola
http://vitrolaminhavitrola.blogspot.com/2010/06/o-album-branco-de-dylan.html