Mais um pouco de “literatura dylanesca” disponível no mercado editorial nacional. Trata-se do Livro “Like a Rolling Stone”, do crítico Greil Marcus, traduzido para português e recentemente lançado pela Companhia das Letras com o subtítulo “Bob Dylan na Encruzilhada”.
Terminada a leitura do livro, queria deixar aqui no Blog minha impressão definitiva a respeito do mesmo. Quer dizer, definitiva talvez nem seja a palavra adequada, já que muitas vezes uma releitura faz com que a aquela impressão inicial por vezes se modifique. Mas vamos lá:
O livro parte de uma premissa bastante promissora, que é discutir a música hoje, vista sob uma perspectiva histórica, 45 anos depois. Confesso, porém, que não me agradou muito, embora não seja ruim. Achei um pouco chato, meio pretensioso, intelectualóide...
Greil Marcus é um crítico conceituadíssimo, tem uma extraordinária bagagem, mas no livro, a impressão que me deu é que apela pra muita filosofia e pouca informação concreta. Tenta soar como um profeta, um iniciado, alguém que fez uma descoberta ou talvez tenha uma revelação a fazer. A mim, pareceu um pouco presunçoso, embora admita que muita gente possa gostar do estilo. Eu talvez seja mais adepto à pesquisa, a dados biográficos, etc.
Talvez minha expectativa tenha sido muito elevada, mas me deu a impressão que às vezes o autor viaja numas interpretações da 'obra dylanesca'. Soa como se fosse o único a compreendê-la, um 'escolhido', mas objetivamente não diz muita coisa. De fato, o livro tem algumas ótimas passagens, como uma bela homenagem do Dylan a Sam Cooke; o episódio da torça do produtor de Tom Wilson para Bob Johnston e outra, interessantíssima, sobre o início hesitante da carreira de Jimi Hendrix e de como as tentativas dele de tocar os discos de Dylan para amigos no Harlem, eram recebidas com desdém.
Além destas, posso citar diversas outras, como a que pinça uma fala de Mike Bloomfield, sobre Newport ´65, na qual ele dá a entender que a rejeição ao ‘Dylan elétrico’ pelos puristas talvez tenha se dado muito mais por levar eletricidade ao templo acústico. Bloomfield afirma que Lightnin´ Hopkins, p. ex., havia 12 anos que gravava discos ‘eletrificados’, mas não levava sua banda ao festival, chegando lá como se recém-saído dos campos. Uma outra sobre o desespero que levou Levon Helm a deixar a banda em plena turnê americana, por não suportar conviver com vaias e platéias enfurecidas.
Uma nota de rodapé que chama atenção é sobre o amigo paraplégico Larry Keagan, que conservou consigo um disco de alumínio com algumas das 1ªs gravações do Bob em 1956. Quando morreu, em 2001, a família dele teria tentado, sem sucesso, vender o disco no eBay pela bagatela de US$ 150 mil. Muito legal também a narrativa da obsessão do Dylan pela Highway 61.
A melhor parte, porém, talvez por ser provavelmente a mais esperada, vem no Capítulo 10, com o relato do famoso show “Judas!”, em Manchester, Inglaterra, que leva o autor, sabiamente, a considerar que nem “Like a Rolling Stone”; nem Dylan; nem o seu público foram os mesmos após aquela turnê.
Pode parecer antagônico, com tanta coisa interessante, achar o livro um pouco chato. Porém, na minha opinião, falta fluidez ao texto em boa parte do livro. Às vezes a leitura se torna modorrenta e a impressão que dá, é que o autor tenta soar profético, revelador, alguém que alcançou algo que os demais não conseguiriam. Bem, são apenas minhas impressões. Recomendo que leiam e tirem as suas próprias...
Outra coisa que merece registro, é que o autor poderia ter economizado algumas páginas, deixando de fazer as absolutamente dispensáveis referências aos Pet Shop Boys e Village People. Aliás, Marcus é autor daquela resenha do disco 'Self Portrait', a famosa "Que merda é essa?". Talvez fosse hora do Dylan devolvê-la, no momento que Marcus faz estas referências no livro dele.
Terminada a leitura do livro, queria deixar aqui no Blog minha impressão definitiva a respeito do mesmo. Quer dizer, definitiva talvez nem seja a palavra adequada, já que muitas vezes uma releitura faz com que a aquela impressão inicial por vezes se modifique. Mas vamos lá:
O livro parte de uma premissa bastante promissora, que é discutir a música hoje, vista sob uma perspectiva histórica, 45 anos depois. Confesso, porém, que não me agradou muito, embora não seja ruim. Achei um pouco chato, meio pretensioso, intelectualóide...
Greil Marcus é um crítico conceituadíssimo, tem uma extraordinária bagagem, mas no livro, a impressão que me deu é que apela pra muita filosofia e pouca informação concreta. Tenta soar como um profeta, um iniciado, alguém que fez uma descoberta ou talvez tenha uma revelação a fazer. A mim, pareceu um pouco presunçoso, embora admita que muita gente possa gostar do estilo. Eu talvez seja mais adepto à pesquisa, a dados biográficos, etc.
Talvez minha expectativa tenha sido muito elevada, mas me deu a impressão que às vezes o autor viaja numas interpretações da 'obra dylanesca'. Soa como se fosse o único a compreendê-la, um 'escolhido', mas objetivamente não diz muita coisa. De fato, o livro tem algumas ótimas passagens, como uma bela homenagem do Dylan a Sam Cooke; o episódio da torça do produtor de Tom Wilson para Bob Johnston e outra, interessantíssima, sobre o início hesitante da carreira de Jimi Hendrix e de como as tentativas dele de tocar os discos de Dylan para amigos no Harlem, eram recebidas com desdém.
Além destas, posso citar diversas outras, como a que pinça uma fala de Mike Bloomfield, sobre Newport ´65, na qual ele dá a entender que a rejeição ao ‘Dylan elétrico’ pelos puristas talvez tenha se dado muito mais por levar eletricidade ao templo acústico. Bloomfield afirma que Lightnin´ Hopkins, p. ex., havia 12 anos que gravava discos ‘eletrificados’, mas não levava sua banda ao festival, chegando lá como se recém-saído dos campos. Uma outra sobre o desespero que levou Levon Helm a deixar a banda em plena turnê americana, por não suportar conviver com vaias e platéias enfurecidas.
Uma nota de rodapé que chama atenção é sobre o amigo paraplégico Larry Keagan, que conservou consigo um disco de alumínio com algumas das 1ªs gravações do Bob em 1956. Quando morreu, em 2001, a família dele teria tentado, sem sucesso, vender o disco no eBay pela bagatela de US$ 150 mil. Muito legal também a narrativa da obsessão do Dylan pela Highway 61.
A melhor parte, porém, talvez por ser provavelmente a mais esperada, vem no Capítulo 10, com o relato do famoso show “Judas!”, em Manchester, Inglaterra, que leva o autor, sabiamente, a considerar que nem “Like a Rolling Stone”; nem Dylan; nem o seu público foram os mesmos após aquela turnê.
Pode parecer antagônico, com tanta coisa interessante, achar o livro um pouco chato. Porém, na minha opinião, falta fluidez ao texto em boa parte do livro. Às vezes a leitura se torna modorrenta e a impressão que dá, é que o autor tenta soar profético, revelador, alguém que alcançou algo que os demais não conseguiriam. Bem, são apenas minhas impressões. Recomendo que leiam e tirem as suas próprias...
Outra coisa que merece registro, é que o autor poderia ter economizado algumas páginas, deixando de fazer as absolutamente dispensáveis referências aos Pet Shop Boys e Village People. Aliás, Marcus é autor daquela resenha do disco 'Self Portrait', a famosa "Que merda é essa?". Talvez fosse hora do Dylan devolvê-la, no momento que Marcus faz estas referências no livro dele.
Foto em frente à Livraria Cultura, do Conjunto Nacional, em São Paulo, onde o livro era destaque.
Like a Rolling Stone - Bob Dylan na Encruzilhada
Greil Marcus (Companhia das Letras; tradução de Celso Mauro Paciornik; 256 páginas)
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