No texto abaixo, uma mais que bem-vinda colaboração de um grande amigo dylanesco, o popular 'Visconde'. Boa leitura!
Se ouvir os novos trabalhos do Dylan é como aguardar um próximo capítulo de um romance surpreendente que nunca se fecha, a expectativa de lê-lo sempre foi imensa por parte de um séquito qualificado de fãs. A pergunta era: seria capaz, o compositor e poeta mais destacado do século XX, oferecer uma prosa escrita a altura do seu talento na música?
A agência de notícias EFE divulgou no último dia 20/01, que o músico americano Bob Dylan assinou contrato para escrever seis novos livros, que eventualmente serão distribuídos pela editora Simon & Schuster. Em 2004 a editora americana publicou com sucesso de vendas “Crônicas: Volume 1” de Dylan. Dos volumes previstos, dois deles serão a continuação da trilogia proposta por “Crônicas”, que foi muito elogiada pela crítica.
Muito provavelmente a Editora Planeta do Brasil deverá assegurar o direito de reprodução para a língua nativa e repetir semelhante quantidade de vendas do Volume 1, que disponibilizou no início de 2005. Será o suficiente para que os fãs e admiradores do cantor e compositor americano possam ler da própria lavra do mestre aspectos e passagens de parte da sua longa e profícua carreira.
Mas ai que está. Dylan beira aos 70 anos a serem completados ainda neste primeiro semestre e a dúvida, com alguma pertinência, é sua capacidade e disponibilidade de tempo para escrever tanto de forma sã e compatibilizar com seu circo permanente de apresentações cuja agenda é das mais exigentes. Dylan tem se notabilizado, entre outras coisas, pela aparente decisão de levar a sua arte onde as portas estiverem abertas, sempre de maneira surpreendente e inovadora. Faz parte da tradição e comportamento do músico, desde há muito, não repetir performances tal qual roteiro de teatro. É sempre uma nova e nem sempre tão feliz abordagem de músicas dos mais de quarenta anos de carreira permeada com a produção recente. Basta lembrar que conta-se nos dedos de uma mão o número de compositores da chamada música popular que continua apresentando novas obras como ele.
A dúvida pode fazer algum sentido para os mais desatentos. Acredito em outra coisa. É muito provável que a sequência de Crônicas já deva estar em condição de prelo. Faz muito sentido Dylan ter esboçado e rascunhado a continuidade do primeiro volume no mesmo período em que o disponibilizou. Talvez apenas alguns detalhes estejam sendo considerados antes do seu lançamento, como ainda pode ser que faça parte de uma estratégia de vendas em doses homeopáticas para melhor assimilação do leitor. É da natureza do Dylan a produção de fôlego em quantidade e qualidade como o prova seu primeiro período de gravação, lá pelos anos 60 e o que foi servido na primeira década deste século: trabalhos impecáveis, amplos; novidades e referenciais adequados ao momento histórico da humanidade e da cronologia do próprio autor.
Se ouvir os novos trabalhos do Dylan é como aguardar um próximo capítulo de um romance surpreendente, que nunca se fecha, a expectativa de lê-lo sempre foi imensa por parte de um séquito qualificado de fãs. A pergunta era: seria capaz o compositor e poeta mais destacado do século XX oferecer uma prosa à altura do seu talento na outra arena? A resposta é sim e desta vez não estava no vento e sim nas páginas do primeiro volume de Crônicas. Literatura de primeira, coloquial sem ser simplório; criativo sem ser surrealista como parte de suas letras de música, objetivo e envolvente.
Nas pouco mais de trezentas páginas do primeiro volume, percorremos um período curto da vida do artista orientado por ele próprio e nesse percurso ninguém se perde no caminho apesar das particularidades e especificidades da América do início da segunda parte do século XX. Dylan nos brinda com uma articulação de idéias concatenadas e amarradas entre si de maneira a não nos distrairmos e nos perdermos com a generosidade de detalhes que acompanha as laudas. Um evidente talento como escritor. Serve informações alocando-as em contextos que ganham ares de uma composição pictórica, outro talento relativo do músico que já o depositou em telas que circulam por algumas galerias na Europa. E o que mais impressiona. Não há sequer uma linha ficcional em toda a obra como prova uma rigorosa comparação, por exemplo, com o livro “Dylan - A Biografia”, de Howard Sounes, publicado em 2002 pela Conrad Livros.
É possível percorrer com a voz e vez do Dylan algumas passagens muito semelhantes às narradas pelo Sounes em seu livro biográfico, o que lhe confere maior credibilidade, reforçando a recíproca que se torna verdadeira, daí exclamamos: “Hã! Então foi assim mesmo que as coisas aconteceram”.
Prato refinado e de qualidade para os fãs que vão sorvê-lo de um fôlego só, poderá ser apreciado sem moderação por qualquer um que tenha algum interesse num dos mais fascinantes personagens e sua obra dos tempos modernos.
J. de Mendonça Neto (Visconde)
Se ouvir os novos trabalhos do Dylan é como aguardar um próximo capítulo de um romance surpreendente que nunca se fecha, a expectativa de lê-lo sempre foi imensa por parte de um séquito qualificado de fãs. A pergunta era: seria capaz, o compositor e poeta mais destacado do século XX, oferecer uma prosa escrita a altura do seu talento na música?
A agência de notícias EFE divulgou no último dia 20/01, que o músico americano Bob Dylan assinou contrato para escrever seis novos livros, que eventualmente serão distribuídos pela editora Simon & Schuster. Em 2004 a editora americana publicou com sucesso de vendas “Crônicas: Volume 1” de Dylan. Dos volumes previstos, dois deles serão a continuação da trilogia proposta por “Crônicas”, que foi muito elogiada pela crítica.
Muito provavelmente a Editora Planeta do Brasil deverá assegurar o direito de reprodução para a língua nativa e repetir semelhante quantidade de vendas do Volume 1, que disponibilizou no início de 2005. Será o suficiente para que os fãs e admiradores do cantor e compositor americano possam ler da própria lavra do mestre aspectos e passagens de parte da sua longa e profícua carreira.
Mas ai que está. Dylan beira aos 70 anos a serem completados ainda neste primeiro semestre e a dúvida, com alguma pertinência, é sua capacidade e disponibilidade de tempo para escrever tanto de forma sã e compatibilizar com seu circo permanente de apresentações cuja agenda é das mais exigentes. Dylan tem se notabilizado, entre outras coisas, pela aparente decisão de levar a sua arte onde as portas estiverem abertas, sempre de maneira surpreendente e inovadora. Faz parte da tradição e comportamento do músico, desde há muito, não repetir performances tal qual roteiro de teatro. É sempre uma nova e nem sempre tão feliz abordagem de músicas dos mais de quarenta anos de carreira permeada com a produção recente. Basta lembrar que conta-se nos dedos de uma mão o número de compositores da chamada música popular que continua apresentando novas obras como ele.
A dúvida pode fazer algum sentido para os mais desatentos. Acredito em outra coisa. É muito provável que a sequência de Crônicas já deva estar em condição de prelo. Faz muito sentido Dylan ter esboçado e rascunhado a continuidade do primeiro volume no mesmo período em que o disponibilizou. Talvez apenas alguns detalhes estejam sendo considerados antes do seu lançamento, como ainda pode ser que faça parte de uma estratégia de vendas em doses homeopáticas para melhor assimilação do leitor. É da natureza do Dylan a produção de fôlego em quantidade e qualidade como o prova seu primeiro período de gravação, lá pelos anos 60 e o que foi servido na primeira década deste século: trabalhos impecáveis, amplos; novidades e referenciais adequados ao momento histórico da humanidade e da cronologia do próprio autor.
Se ouvir os novos trabalhos do Dylan é como aguardar um próximo capítulo de um romance surpreendente, que nunca se fecha, a expectativa de lê-lo sempre foi imensa por parte de um séquito qualificado de fãs. A pergunta era: seria capaz o compositor e poeta mais destacado do século XX oferecer uma prosa à altura do seu talento na outra arena? A resposta é sim e desta vez não estava no vento e sim nas páginas do primeiro volume de Crônicas. Literatura de primeira, coloquial sem ser simplório; criativo sem ser surrealista como parte de suas letras de música, objetivo e envolvente.
Nas pouco mais de trezentas páginas do primeiro volume, percorremos um período curto da vida do artista orientado por ele próprio e nesse percurso ninguém se perde no caminho apesar das particularidades e especificidades da América do início da segunda parte do século XX. Dylan nos brinda com uma articulação de idéias concatenadas e amarradas entre si de maneira a não nos distrairmos e nos perdermos com a generosidade de detalhes que acompanha as laudas. Um evidente talento como escritor. Serve informações alocando-as em contextos que ganham ares de uma composição pictórica, outro talento relativo do músico que já o depositou em telas que circulam por algumas galerias na Europa. E o que mais impressiona. Não há sequer uma linha ficcional em toda a obra como prova uma rigorosa comparação, por exemplo, com o livro “Dylan - A Biografia”, de Howard Sounes, publicado em 2002 pela Conrad Livros.
É possível percorrer com a voz e vez do Dylan algumas passagens muito semelhantes às narradas pelo Sounes em seu livro biográfico, o que lhe confere maior credibilidade, reforçando a recíproca que se torna verdadeira, daí exclamamos: “Hã! Então foi assim mesmo que as coisas aconteceram”.
Prato refinado e de qualidade para os fãs que vão sorvê-lo de um fôlego só, poderá ser apreciado sem moderação por qualquer um que tenha algum interesse num dos mais fascinantes personagens e sua obra dos tempos modernos.
J. de Mendonça Neto (Visconde)
4 comentários:
Parabéns Visconde. Assim me senti lendo este livro.
Aguardamos os outros volumes.
Discordo em alguns pontos do Visconde... primeiro que eu acredito que se o Dylan assinou que de seis livros, é porque ele já os tem escrito... e isso não quer dizer que ele os vá lançar todos juntos ou então próximos um do outro..
Acredito nisso até porque um cara que esteve ligado aos beatkis e conviveu com Ginsberg deve escrever bastante, ainda mais se formos considerar a idade dele...
Outro ponto que, acho que tu esqueceu, ou até desconhece, é que Dylan já havia lançado um livro muitos anos atrás, trata-se de Tarântula (no filme "I'm Not There" tem alguns cortes que mostram uma tarântula caminhando enquanto sobrepõe a imagem de Dylan) um livro raro e difícil, mas não impossível, obvio, de se encontrar. Tu coloca as informações como se fosse o primeiro livro do Dylan o "Crônicas"... mas enfim, é um texto ótimo e bem bonito, tirando aos louvores ao velho Dylan!
Três considerações caro Johnny
Primeiro, grato pela leitura crítica;
Segundo: Faltei com a clareza. Não quis dizer que os seis livros estariam escritos. Acho mesmo que não, entretanto, a sequência de Crônicas desconfio que sim;
Terceiro: a curiosidade sobre a capacidade laudatária do mestre vinha mesmo da minha dúvida sobre textos coloquiais e sistematizados. Digo isto, exatamente por conhecer (e quase nem mesmo lembrar) do Tarântula.
Por fim, seu comentário ajuda esclarecendo que, de fato, não se trata da primeira obra literária strictu sendo do Dylan.
Isso não desmerece seu texto, tu apenas não quis focar nestes aspectos... tu falou muito mais do Crônicas, que era o assunto principal - a começar pela imagem dele.
Quanto aos livros, é quase que óbvio que ele tem muito material guardado, tanto se tratando de literatura quanto de músicas.. ele assinou o contrato e obviamente já tem em mente o que vai lançar, provávelmente alguma revisão será feita neste material... mas acredito que ele ja está pronto! É só esperar...
Só ainda descordo de ti quanto ao seu louvor por ele, mas isso não tem nada a ver com este bem escrito texto... é que eu apenas não entendo 'louvores' com artistas, por mais que Dylan seja genial (e é, inclusive o maior da música pop). A sorte é que as pessoas devem discordar sempre se tratando de Bob Dylan, se todo mundo tiver a mesma opinião perde metade da graça de falar sobre ele!
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