terça-feira, 18 de março de 2008

Eu estava lá...


A última vez que Bob Dylan se apresentou no Brasil havia sido em 1998 e naquela oportunidade, compromissos profissionais me impediram de vê-lo. Muitos anos depois, já em 2005, ingressei num site de relacionamentos na internet e, apesar de no início achá-lo sem graça, algumas comunidades de discussão relacionadas ao meu artista favorito, me fizeram utilizá-lo até com certa freqüência. Em meu círculo de convivência, não são muitos os fãs e admiradores do cantor e poeta, ícone do movimento folk. Na internet, pude conhecer pessoas que curtiam as mesmas canções e, principalmente, conheciam muito a obra do grande Dylan. Foi um achado e tornou-se um constante aprendizado! Nestas comunidades, a cada ano surgiam boatos sobre o retorno do ídolo ao país, mas infelizmente isto nunca se concretizava. Já quase sem esperanças de novamente ter a oportunidade de ver o homem-lenda em terras tupiniquins, eis que surge o anúncio oficial dos shows de Bob Dylan no Rio e São Paulo. Devo ter sido, provavelmente, um dos primeiros a adquirir os ingressos pela internet e, numa tremenda ansiedade, começar os preparativos para a viagem que sabia ser inesquecível.

Um sonho acalentado durante anos estava prestes a se tornar realidade. Em março de 2008, finalmente, Mr. Bob Dylan em pessoa, ao vivo e em cores, estaria novamente em palcos brasileiros e desta vez, eu estaria lá... A companheira de viagem seria minha namorada Camila, que se não chega a ser fã do mestre, graças ao convívio comigo passou a curtir e admirar aquele que ela chama, carinhosamente, de “velhinho fanho e narigudo”. Os altíssimos preços dos ingressos, caríssimos em São Paulo e apenas um pouco mais em conta no Rio, forçaram que os demais custos da viagem fossem bastante reduzidos. As passagens para São Paulo foram compradas numa mega-promoção de companhia aérea, enquanto que as pro Rio, através de programa de milhagens. Os hotéis onde nos hospedaríamos foram escolhidos não pelo conforto ou localização, mas levando em consideração tão somente as tarifas mais baixas disponíveis. A viagem era meu próprio presentinho de aniversário, a recompensa por estar chegando aos 40 anos, que seriam completados exatamente no dia da apresentação do mito na arena do Rio de Janeiro.

O show em São Paulo foi numa quarta-feira, 05/03, numa casa de espetáculos ampla e elegante. Os problemas eram as mesinhas apertadas e quase nenhum espaço para se locomover entre elas, além de um serviço de má qualidade. Mais uma decepção viria quando anunciaram que, durante a apresentação, os telões que ficavam ao lado do palco seriam desligados. Nossos lugares eram um pouco distantes do palco e, embora tivéssemos boa visão panorâmica deste, os telões ajudariam em muito a enxergar e perceber os detalhes, as expressões dos músicos, especialmente do Bob, que à distância parecia estar se divertindo a valer. De todo modo, todos os transtornos foram devidamente esquecidos, quando apenas dois minutinhos após o horário previsto, o mestre já se encontrava no palco e os primeiros acordes de "Leopard-Skin Pill-Box Hat" já eram ouvidos no Via Funchal... Em êxtase, ainda um pouco aturdido e sem acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo, fomos acompanhando uma a uma, por quase duas horas, as canções do mestre, que alternou entre clássicos como “Like a Rolling Stone”; “It Ain´t Me Baby” e “Highway 61 Revisited” e canções mais recentes, em especial do último disco, “Modern Times”. Sim, é verdade tudo aquilo que já sabíamos de tanto ler, ouvir falar ou mesmo escutar os antigos discos “ao vivo”: que ele modifica os arranjos das músicas, que às vezes demoramos um pouco para identificar qual canção está sendo tocada, que ele altera o andamento e por vezes até as letras das músicas... Mas nada disso compromete o espetáculo. Pelo contrário, é justamente o que faz de cada show de Bob Dylan um evento único e exclusivo e é também aquilo que o caracteriza como um artista em constante mutação, sempre à frente do seu tempo. Talvez, a maior característica das apresentações dessa legenda da música internacional, seja o fato de poder pinçar qualquer seleção de músicas das cerca de 500 canções de seu repertório e tocá-las de modo todo particular. Sexta-feira seguiríamos pro Rio de Janeiro, que aliás, continua lindo e no sábado, 8 de março, dia do meu 40º aniversário, estaríamos novamente diante do ícone, do poeta que, quando jovem, foi apontado como “a voz de sua geração”, mas que com quase 70 anos ainda se mostra em ótima forma, com muita energia e vitalidade.

Não preciso dizer que este foi meu aniversário mais marcante e ainda que o “bardo” não tenha tocado um “Happy Birthday to Me”, ao menos me presenteou com uma lindíssima interpretação de “My Back Pages”: “Ah but I was so much older then, I´m younger than that now.” A Rio Arena, construída para os Jogos Pan-Americanos do ano passado, era uma estrutura bem melhor para um show daquele porte e, embora na arquibancada, ficamos nas proximidades do palco e tínhamos ótima visão do show. Cadeiras confortáveis, amplo espaço para assistir o espetáculo sem precisar nos espremer, liberdade de circulação e um clima mais descontraído, já revelavam que o show do Rio superaria o de São Paulo. Mais uma vez, o velho Bob mesclaria velhas canções, clássicos como “Blowin´ in the Wind” que encerrou sua passagem pelo Brasil, com músicas mais recentes, dentre as quais, “Things Have Changed” que rendeu ao Dylan um Oscar, cuja estatueta reluzia no palco, bem próxima aos teclados usados pelo mestre.

Ao final de tudo, além das lembranças das apresentações do homem-lenda, que jamais se apagarão da memória, trago também recordações de alguns amigos que até então eram apenas virtuais, mas que tivemos a grata satisfação de conhecer pessoalmente. Em São Paulo, na Via Funchal, o gaúcho-gremista Sidnei, com sua indefectível camisa do tricolor dos pampas, com o nome do Bob Dylan e o nº 10 às costas. No dia seguinte ao show, num botequim da Av. Faria Lima, um encontro descontraído, regado a muita cerveja e ótimo bate-papo, com os paulistas Carmênio José; Morgana e Maristela. No Rio, em pleno show, nos encontramos com Juliano Franco, um garotão com a idade de meu filho Victor (17 anos), mas já completamente apaixonado e conhecedor da inesgotável obra do legendário Bob Dylan. Na saída do Rio Arena, um encontro casual com meu conterrâneo Guilherme, com quem apenas mantinha contato através de mensagens eletrônicas. Todos estes, inclusive alguns que faltaram e suas ausências se fizeram sentir, são personagens desta história, desta experiência única e maravilhosa do meu encontro com este artista também único e inconfundível chamado Robert Allen Zimmerman, mas que o mundo inteiro conhece por BOB DYLAN!

Escrito a bordo de um avião Varig, trajeto Rio-Recife, em 10 de março de 2008.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu estava lá...
Dificilmente o show poderia ter sido melhor