sexta-feira, 25 de maio de 2012

Visita superficial aos defeitos do mestre Dylan!

Aqui, mais uma bem-vinda colaboração de um grande amigo dylanesco, J. de Mendonça Neto, o popular e estimado 'Visconde de SábioGoza'. Boa leitura!


Visita superficial aos defeitos do mestre Dylan






O Dylan faz 71anos, 50 de carreira e eu acompanhei de perto, lado a lado, uns 30 anos dessa trajetória. Teria acompanhado mais, mas não tinha idade para isso. Dylan me faz companhia esse tempo todo e, decidido desde há tempos a não ter senhores nem reis, me esforço para não cair na vala comum de súdito. Tento, mas nem sempre consigo.

Por conta disso sempre que possível, busco enfoques ou detalhes desse mestre que possam me incomodar e dar conta que trata-se apenas de um rapaz americano com muito dinheiro no bolso e não um deus, mesmo porque tanto quanto consigo, sou agnóstico. Vendo para crer.

Nessa direção, vira e mexe anoto na memória, essa traidora, pequenos, médios e grandes deslizes do mestre _ olha eu de novo, reverenciando para me certificar de que é um ser humano, não igual a mim, com um forte elenco de defeitos, mas, ele também, passível de pecados.
E sem a profundidade dos vários enciclopedistas dylanescos que conheço e com um texto aberto a revisão, aprofundamento e até negação, busco elencar da velha traidora algumas passagens que envolveram o homem e o artista nesta longa e profícua trajetória.

Mas, até antes dessas observações bastante superficiais, gostaria de considerar que foi exatamente essa resistência a seguir reis e senhores que me colocaram em reserva quando da recente passagem dele pela América do Sul, que incluiu apresentações em quatro capitais e o distrito federal no Brasil.

Lembro de ter conversado com meus botões: Já vi o Dylan algumas vezes. Vê-lo novamente não é pagar pau para um sujeito, quase único, é claro, mas apenas um artista com o qual tenho afinidades? Resolvido, não sei se dá melhor maneira. Dei ré, não fui e não me incomodei.

Não me incomodei porque de perto, mas não presente, acompanhei como foi essa passagem e desde elas já pontuei alguns incômodos que me fortaleceram na perspectiva de reafirmar agora: nem rei, nem senhores e nem deuses, acrescentei. Ele continua com aqueles terninhos de circo e aquele indefectível chapéu. Somos minoria, os incomodados com a vestimenta do cara, mas já se trata de um defeitinho.
Para mim, sob minha responsabilidade e risco, Dylan deu umas mancadas, mas não exijam desse escriba contextualização completa do que vou elencar. A velha traidora não dá conta disso e o Dylan não é tão importante assim que mereça da minha parte grandes prospecções.

Aos pontos e nem são muitos. Dylan não se comportou bem durante a sua transição de abandono da cena militante do folk à época. Tenho pra mim que o seu salto em direção a outras cenas e amplidão de possibilidades, não foi feita de forma elegante e grata a cena folk que tão bem o acolheu, deu força e prestigio inicial.
Aos saltos dos fatos, também considero que a maneira com que ele tratou a relação com a Joan Baez, que tinha outras expectativas quanto ao então jovem Dylan, não foi a de um cara respeitoso e sim de quase um oportunista sem escrúpulos.

Ainda saltando. Quando virava uma celebridade anfetaminada, em sua passagem pela Inglaterra, o desdém continuou em relação à parceira que tanto o apoiou. As diversas entrevistas das quais ele participava pouco tinha de novo com relação ao comportamento eminentemente comum da época, entre as estrelas da cena rock. A sua irreverência, em determinadas ocasiões, visavam alimentar o astro, não os esforços da contracultura. Considero, e esse é um julgamento de juízo, que era um momento de responsabilidades comunitárias da qual ele se furtou.
Saltando mais. A forma com que tratou um esforçado Donavan _ que o apreciava sem moderação, também não foi a de alguém que se garantisse em sua complexidade e capacidade. O documentário ‘Dont Look Back’ dá alguns outros sinais claros que se Dylan estava num momento muito inspirado de sua carreira em transição para a cena do rock, pessoalmente algumas posturas beiravam a infantilidade e cafajestice, quando numa relação conflituosa entre as mulheres do seu arco.

Outra passagem que a velha traidora trás superficialmente diz respeito a sua participação num Live Aid qualquer, onde não tenho certeza que sua alusão à situação dos fazendeiros americanos, sugerindo uma ajuda advinda da ação binacional, EUA e Inglaterra, fosse a mais pertinente. Claro que Dylan não falou no vazio e apenas baseado num “baseado”. Tinha lastro. A situação dos fazendeiros mereceu depois shows especiais com aquela finalidade.

Aos saltos ainda. Dylan, conforme narra Sounes, na biografia que fez do mestre e ele próprio no primeiro volume de Crônicas, desfila alguns exemplos de comportamento duvidoso. Roubo de discos, suave, é claro; roubo de arranjos como fez com Dave Van Ronk em seu primeiro álbum e a megalomania afrescalhada quando gastou fortunas para construir uma mansão onde moraria apenas o pequeno Bob e sua família que nem tão grande era.
Acho que fico, por enquanto, por aqui. Outros exemplos poderiam brotar da velha traidora. Haverá controvérsias, explicações e algumas fazem parte até mesmo das minhas reflexões sobre o ocorrido, mas, como alertei os eventuais leitores se trata de um esforço pessoal de não ver Dylan como rei, senhor ou deus. 

O infortúnio de um texto destes seria a infelicidade de ele chegar aos olhos do mestre. Ele leria então essas mal construídas linhas e não as dezenas de textos que escrevi sobre ele meio indefeso com relação a minha premissa de não ter reis, senhores ou deuses.

Dylan é Dylan. Meu parceiro de longa data e o maior compositor de todos os tempos. E lá sigo eu tentando não reverenciar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Texto interessante. Esperar que ele não cometa erros é endeusa-lo... a meu ver. Sei que não foi essa a intensão do seu texto, mas as acções que ele teve de caráter duvidoso indica (talvez) o quanto ele foi mais humano que muitos outros artistas demonstraram um dia ser. Ele é em demasia humano. Ele é o que é e nunca escondeu de ninguém que cometeu vários erros. Vários destes citados ele já pediu desculpas, como no caso da Joan. A verdade é que negou, em muitos aspectos, sua obra aos que a admiravam. Sou uma fã, a menos tempo que você, mas Dylan foi minha carruagem de fogo e ao tentar alcança-lo caí no abismo dos fãs comuns. Fui ao show. Irei se ele voltar.

Ass.: Maria.

Visconde de SábioGoza disse...

Grato pelo comentário Maria que, de bobeira, só agora li.

Saudações dylanescas, Visca